quinta-feira, setembro 20, 2007

A "punição" do sr. Scolari

A UEFA aplicou uma pena de 4 jogos de suspensão ao sr. Scolari, depois de este ter agredido um jogador adversário. A decisão daria vontade de rir, se não fosse tão grave. Recordemos os factos.

No final de um jogo miserável da selecção da FPF contra a selecção da Sérvia, onde demonstrou de novo a sua incompetência para o cargo, o sr. Scolari dirigiu-se a um jogador sérvio e esmurrou-o (ou tentou, para o caso vai dar ao mesmo). As imagens são muito claras: o sr. Scolari avança decidido para o sérvio, e só não o agride com violência porque o Brassard, que se comportou de forma digna, se interpôs. Ainda assim, o sr. Scolari lançou um murro, que mais tarde, despudoradamente, disse ser um mero gesto inconsciente. Das duas uma: ou tem a doença das vacas loucas, ou está a gozar com a inteligência do pessoal.

Pouco depois, nega tudo, afirmando inclusive que as imagens mentiam (!). Um pouco mais tarde, rendendo-se às evidências, diz que estava a defender o Quaresma. Além de ser no mínimo hilariante imaginar um sexagenário a ter de vir em socorro de um rapazola, ainda por cima atleta, de vinte e poucos anos, as imagens desmentem, de novo, o sr. Scolari. O Quaresma não está sequer ali. Mas ainda que estivesse. Precisaria de que aquele sexagenário o defendesse? E defendesse de quê, já que em momento nenhum se descortina qualquer tentativa por parte do Sérvio de o agredir? Mais tarde, num frete feito pela RTP à FPF, afirmou que se tratava de um gesto habitual da sua parte, inconsciente. Normal da sua parte ficámos todos a saber que é, depois de finalmente se tornarem públicas os casos de violência e péssimo desportivismo de que tem sido actor ao longo da sua carreira, e que só os mais desatentos desconheciam. Inconsciente, bem, então talvez seja melhor o sr. Scolari consultar um neurologista. Um gesto daqueles, com tal impulsão do corpo, de tal forma direccionado, só se pode explicar de uma maneira, se for inconsciente: doença neurológica grave, do tipo da das vacas loucas. Por fim, dando de novo o dito por não dito, desculpou-se com alegadas ofensas dirigidas pelo sérvio. Ora bolas, então um homem com aquela idade não se sabe conter perante insultos, que se é verdade que são feios mais verdade ainda é que são comuns em jogos de futebol, e que os deve já ter ouvido às centenas ao longo da sua carreira, primeiro como jogador, finalmente como treinador? Se não sabe, talvez não fosse má ideia tirar um curso intensivo de boas maneiras e iniciar uma terapia de controle da agressividade. Nunca é tarde para aprender.

Agora ficamos a saber que para a UEFA afinal foi coisa pouca. Quatro joguitos e uma multa ridícula, tendo em conta o chorudíssimo salário auferido pelo sr. Scolari. Na prática vai beneficiar a selecção da FPF, que sem ele no banco talvez finalmente faça um jogo como deve ser. Para mim, que há quase 4 anos defendo a sua demissão imediata, é sempre uma boa notícia, talvez se volte a ver bom futebol pela selecção da FPF. No entanto há questões éticas que se sobrepõem a estas vantagens pragmáticas.

Os casos de indisciplina nas selecções portuguesas são infelizmente comuns, e revelam algumas das características mais vergonhosas do povinho português. Em 1997, o Sá Pinto foi suspenso por 1 ano depois de esmurrar o Artur Jorge. Em 2000, na meia-final do Euro'00, o Abel Xavier, o Nuno Gomes e o Paulo Bento, depois de protestarem (sem agressão, nem tentativa) com o árbitro por este ter marcado um penálti contra a selecção da FPF, levaram suspensões entre cinco e sete meses. Em 2002, a FIFA suspendeu o João Pinto, depois de este alegadamente ter agredido um árbitro, durante o Mundial'02. Apesar de a agressão ser evidente, não foi nunca provada categoricamente, pois as imagens não captam com clareza o momento. Um tal de Zequinha, seleccionado Sub-20, levou 1 ano de suspensão, depois de tirar o cartão a um árbitro.

Agora vem o sr. Scolari, contratado numa lógica de renovação da selecção e de imposição de disciplina, e agride um jogador adversário, justificando-se depois com mentiras sem sentido. A lógica ditaria que fosse duramente castigado, com mais dureza do que qualquer um dos casos recordados, tanto pela UEFA como pela FPF - e já agora pela FIFA. Afinal o seu acto foi no mínimo idêntico ao pior dos casos referidos (a agressão do João Pinto), e muitíssimo mais grave do que os restantes. Tem ainda as agravantes de ter um historial de agressões e falta de desportivismo, de estar numa posição de destaque (o que o torna susceptível de servir de exemplo), e de já ter idade para ter juízo. Mas não. A UEFA amansa-lhe o pêlo com um castigo ridículo e ofensivo para todos quantos por acções menos graves tiveram castigos mais pesados. A FPF assobia para o ar. A mesma FPF que tão célere tem sido em punir, independentemente da UEFA e da FIFA, casos de menor gravidade. A mesma FPF que afastou cobardemente, sem o assumir e sem se justificar, o João Pinto da selecção, por uma atitude de gravidade equivalente. Isto diz tudo da fibra e da dureza da espinha dos senhores da Praça da Alegria.

Fica a esperança de que a atitude (ou falta dela) da FPF seja apenas uma vergonhosa, canalha e pouco ética medida de contenção de estragos, tendo em conta o apuramento para o Euro'08, que a demissão do sr. Scolari aconteça imediatamente após o final da fase de qualificação. Afinal, que moral tem esta FPF para vir a partir de agora exigir disciplina aos jogadores e punir a falta dela?

O sr. Scolari cometeu vários actos indesculpáveis, dignos de um arruaceiro da pior espécie. Agrediu injustificadamente um jogador adversário, mentindo várias vezes e de forma contraditória sobre os motivos da agressão, que umas vezes negava veementemente ter existido, outras admitia implicitamente. A UEFA, apesar das suas constantes campanhas pelo fair play, fechou os olhos, deu-lhe duas palmadinhas nas costas (mas devagarinho, para não magoar) e esqueceu o assunto. Que desilusão, Platini. Afinal está tudo na mesma. A FPF ignorou, até agora, o caso. Bem, não será correcto dizer que "ignorou", pois na verdade tudo fez para desculpar e desagravar o senhor de bigode malcriado. A mesma FPF que puniu exemplarmente outros casos de indisciplina e violência, indênticos ou menos graves. Não se pode, no entanto, falar de desilusão, no caso da FPF. Dali tudo se espera.

Houvesse justiça e coerência, e neste momento a FPF estaria já à procura de novo seleccionador. Houvesse justiça e coerência, e a UEFA teria punido exemplarmente o sr. Scolari. Mas como parece que o cotovelo e a palmadinha nas costas continuam a valer mais do que a coerência e a justiça, o sr. Scolari sai praticamente impune de um acto que envergonha o futebol português e a imagem dos portugueses.

P.S.: o sr. Madail diz que os casos do Zequinha e do sr. Scolari são incomparáveis. De facto são, tem toda a razão. O zequinha é um miúdo que tirou o cartão ao árbitro, não cometendo qualquer agressão. Foi punido, e bem. Quanto a mim nunca mais era convocado. O sr. Scolari é um homem com idade para ter juízo, com um cargo de liderança e responsabilidade. Agrediu um jogador adversário. De facto são situações incomparáveis.

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