quarta-feira, outubro 08, 2008

Calmaria nas hostes

Tenho andado ausente por motivos profissionais, mas voltei para derramar pesporrência.

Cinco jornadas depois, e preparando-nos para uma segunda paragem, é curioso ver os estados de alma dos adeptos, facciosos ou não, dos três grandes.

Os morcões, com a tranquilidade de décadas de hegemonia (nuns casos legítima, noutros nem por isso), estão de novo na mó de cima, de novo por cima dos dois velhos marretas da Segunda Circular lisboeta, de novo a olhar de cima o resto da procissão que chegará ao santuário lá para Maio do próximo ano. Resta saber de que cor serão os panejamentos do andor. Pelo que se viu em Alvalade, e apesar do resultado, estão longe do poderio de outros tempos. No entanto, todos sabemos que isso não tem sido entrave. Este ano, e sem as tradicionais apitadelas, parecem ter apostado noutra táctica, que de resto já deu frutos no Boavista no início deste século: a cacetada. No Domingo, em Alvalade, senti-me como um romano num espectáculo de gladiadores, com a diferença de que não havia aspersões de perfume.

Os lampiões, com a sua característica personalidade maníaco-depressiva, passaram das lamúrias caliméricas das primeiras jornadas para a euforia e a certeza de que este ano é que é. Aliás, ainda à 4ª jornada já o insuspeito Record trazia artigos de opinião com títulos do género "Benfica campeão se...". Compreende-se a euforia: neste século têm sido muito raras as ocasiões em que o Benfica conseguiu ganhar ao Sporting no Galinheiro (2 apenas, se a memória não me falha), mas não se justifica. Como se viu na jornada seguinte, o Benfica este ano parece fadado para continuar a dar muitas alegrias aos adeptos. Aos do Sporting e aos do Porto. Houve ainda a vitória sobre aquela equipa italiana, actual 7ª classificada e há muito afastada destas lides. Logo se falou de um regresso às grandes noites europeias de anos há muito idos. Assim se vê como andam as expectativas por aquelas bandas.

Os sportinguistas, depois de um início de campeonato muito prometedor mas com apenas um resultado realmente significativo - a vitória em Braga -, entraram em depressão com a previsível, esperada e naturalíssima derrota em Barcelona, não ficaram convencidos com a previsível, esperada e naturalíssima vitória contra o Basileia (fosse isto do outro lado da Segunda Circular e teríamos uma "noite comparável à dos anos 60"), entraram em estado de choque com a inesperada derrota no Galinheiro, e encolheram os ombros descrentes com a derrota contra os morcões. Convenhamos: destas três derrotas apenas os 0-2 no Galinheiro são preocupantes, surpreendentes e motivadores de revolta nas hostes. Tendo em conta o historial recente, esse seria o resultado menos previsível. A única coisa que poderia levar a prevê-lo seria a tradição que diz que ganha quem está em pior momento. Mas ainda assim, e tendo em conta a sucessão de vitórias (algumas confortáveis) e empates conquistados no Galinheiro na última década, nada faria esperar uma coisa daquelas. A derrota em casa contra os morcões também não caiu bem, embora menos surpreendente, e instalou-se de novo o desânimo entre os sportinguistas. É preciso no entanto não esquecer um ponto importante: apesar da campanha oficial em sentido contrário, dificilmente o Sporting pode ambicionar a mais do que tem feito nos últimos anos, tendo um orçamento bastante inferior ao dos rivais. E muito se tem feito, nomeadamente ao ficar regularmente mais bem classificado e ao ganhar incomparavelmente mais troféus do que o clube que ostenta já há algumas épocas os orçamentos mais altos, e que, paradoxalmente nada tem conquistado, e do 3º não tem passado.

O que lampiões e sportinguistas parecem esquecer, porém, é que só passaram ainda 5 jornadas, e a procissão nem no adro ainda vai. Parecem também esquecer o velho lugar-comum (ainda assim verdadeiro) que reza que os campeonatos não se ganham nem se perdem nos confrontos entre os grandes. Embora sejam indicadores importantes - e o Sporting tem de reflectir e preocupar-se - não são decisivos. Sobretudo quando, como por feliz acaso acontece nesta época, se concentram todos nas primeiras jornadas. Isto permite que, por um lado, os inegáveis bons resultados de morcões e lampiões não sejam demasiado relevantes, e por outro os péssimos resultados sportinguistas não sejam, longe disso, um revés irrecuperável. Basta olhar para a classificação para o perceber. Quanto a mim, gosto assim: se as coisas correm mal nos clássicos, como começaram a correr este ano, há sempre muito, mesmo muito tempo para recuperar. E isto é válido para a segunda volta. Quanto aos morcões, e apesar de a minha opinião não ser original, cheira-me que não vão dar o passeio calmo dos últimos anos.

[publicado em simultâneo no Facciosos]

domingo, agosto 31, 2008

Ug

[Publicado em simultâneo no Facciosos]

O jogo não estava a ter graça nenhuma, até que, talvez reagindo pavlovianamente à presença de um árbitro (salivava abundantemente, pelo menos, e reagiu a um apito, que é o mais próximo num estádio de uma campainha de laboratório), um lampião vestido num misto de bobo da corte com diabrete de Bosch abriu a porta do curral, despejou para dentro do campo a barriga pantagruélica - o resto do corpo veio atrás, arrastado pela gravidade - e empurrou o primeiro portista que lhe apareceu à frente, no caso um árbitro. Grasnou qualquer coisa que não se consegue decifrar enquanto não se achar uma pedra de Rosetta com um Champollion lampião apenso, e regressou calmamente ao seu lugar, perante a bovina pachorra da segurança, que, tal como os adeptos em volta, não deve ter achado mal nenhum na descarga bestial da criatura avermelhada. Dizem as crónicas que só à força de bastonada a turba circundante permitiu que a polícia fizesse aquilo que o mais básico sentido de civilidade e educação dita: a detenção de uma pessoa que agride outra pelas costas, ainda por cima naquelas circunstâncias (embora se dispensasse o espectáculo de termos 3 ou 4 polícias a bater num velho louco e lampião, mas ainda assim uma pessoa de idade). É tristemente revelador da falta de cultura cívica de um país. Alguém viola todas as normas de conduta entre seres humanos, agredindo pelas costas outro ser humano, e a populaça não só não acha mal como não permite que o agressor seja punido. Sic transit gloria mundi, pardon my latin.

Parece que segundo os regulamentos a coisa se fica por uma multa simbólica ao benfica, o que não me parece mal, embora me questione sobre a justiça de pagar um clube pelas cavalidades dos seus adeptos, e só o consiga compreender como forma de evitar a ocorrência de actos de vandalismo concertado. Não sei o que acontecerá à criatura agressora, pois não li os regulamentos e, convenhamos, há coisas mais interessantes para ler a um Domingo de manhã, mas num país a sério levaria uma multa pouco simbólica, e teria a entrada vedade em estádios de futebol durante um período considerável de tempo. Como isto não é um país a sério, e não tenho notícias de que tenha sido essa a punição adoptada quando algumas criaturas da Juve Leo invadiram o campo no final de um Sporting x benfica em 2004, o mais natural é que se safe com uma palmadinha nas costas na esquadra para onde foi levado (com sorte apanhou um graduado de serviço de bigodes benfiquistas), e seja recebido em alarve apoteose por uma turba extática entre gritos desdentados e bigodes enlevados. Pois é este o país que temos.

terça-feira, agosto 26, 2008

Agora é que dá uma pataleta ao Oliveira


«Vai dar faísca. Maxi Pereira e Cristian Rodríguez são amigos pessoais, colegas na selecção do Uruguai, chegaram juntos para o Benfica e, na época passada, eram vizinhos, falam até de casamentos, mas na noite do próximo sábado, no Benfica-FC Porto, vai ser como se nunca se tivessem visto na vida.»

É com grande alegria que aqui se regista o "coming out" do Maxi Pereira e do Rodríguez, que admitem e assumem à imprensa que entre eles a coisa dá faísca e que até falam já de casamento. Aos nubentes deixo os meus parabéns. Onde é a boda?

domingo, agosto 24, 2008

Mais um belo jogo


Começou

[publicado em simultâneo no Facciosos]

Foi jeitoso. O resultado foi animador, a exibição da primeira parte bastante razoável. Parece-me que não houve nenhum jogo na época passada em que o Sporting tivesse feito uns 30 minutos tão agradáveis e, a espaços, entusiasmantes. Não tenho muitas esperanças quanto ao título, até porque o Sporting parte, como nos últimos anos, na terceira posição da grelha de partida, distanciado em termos de orçamento, número de associados e apoios dos dois rivais. Ainda que, como se tem visto, os maiores orçamentos nem sempre correspondam a melhores classificações, a verdade é que é sempre uma condicionante de relevo. Não tenho muitas esperanças, dizia, mas eu nestas coisas sou muito parvalhão e ingénuo, e nem me importo de ficar em 2º ou 3º, desde que veja bom futebol. E este ano parece-me que vou vê-lo, "in xa' Allah".

Confesso que ainda pensei, quando aos 28 ou 29 minutos berrei golo pela 3ª vez, que íamos ter goleada das antigas. Martelei mesmo um sms desse teor a um amigo, que obviamente era extemporâneo. O sms, não o amigo. Acho. Seja como for, a verdade é que a partir daí o jogo se foi enroscando num tédio amolengado, assim ao ritmo dos cabelos compridos da brasileira à minha frente, que os esfregava (sem querer, quero crer) ritmadamente nos meus joelhos estivalmente desnudos. (Dois advérbios em mente numa mesma oração, francamente, é deprimente, mas que se lixe). Depois veio o intervalo, e o lamentável espectáculo das "cheerleaders" em coreografias escanzeladas, perante a consternação generalizada dos poucos que ficaram nas bancadas para aturarem aqueles implantes saltitões enxertados nos estádios portugueses com a mesma naturalidade com que se enxertaria uma macieira numa palmeira. Pisguei-me assim que pude.

A coisa só animou quando, já na segunda parte, o árbitro assinalou aquele penálti espantoso que mais ninguém no estádio viu, aparentemente nem o fiscal de linha. De resto a noite de hoje pode vir a fazer história na jurisprudência desportiva, se tal coisa existir: passa a haver um precedente para a marcação de penálti em faltas a uns bons dois metros da área. Confesso que ainda me passou pela cabeça rapada de fresco (e talvez pour cause) que como o rapaz da Trofa tinha aterrada na área, talvez ainda se admitisse aquela coisa de a falta poder ser começada fora, mas acabar lá dentro. Só que imediatamente me lembrei de que isso só se aplica se o jogador começar a ser agarrado fora, e continuar a ser agarrado dentro, o que, claramente, não foi o caso. O que me faz confusão é que se até para um aspirante amaricado a latinista e a arabista isto é claro como a água, lá em cima na bancada B, como é que pode ter passado em claro a um rapazola de nome evangélico que até fez um daqueles cursos de árbitros? Mais valia se calhar ter andado a fuçar no latim e no grego, fazia melhor figura. Até lhe posso desculpar o penálti perdoado aos tipos da Trofa, que passou despercebido a quase toda a gente no estádio, mas aquele penálti "a meio campo", enfim, não sei, faltam-me os adjectivos e os advérbios em mente.

Não vou, no entanto, embarcar no discurso paranóico-conspirativo - e a tentação era grande, pois ele só se enganou para um lado. O que ficou evidente na noite de hoje, em termos de arbitragem, foi que aquele cavalheiro de apito na boca, é, à semelhança da generalidade dos árbitros portugueses, incapaz e incompetente. Completamente. E isto foi só o começo. Infelizmente.

Para continuar a remoer os aspectos negativos, não gostei de verificar que ainda há alguns cripto-lampiões que assobiaram o Moutinho. Ou então estavam a assobiar a Taça que ele exibia. Nem uma coisa nem outra é de sportinguista a sério. Aliás, não sei qual será pior. Não tive oportunidade de ladrar a quem o fazia, porque o meu lugar é numa zona de sócios, e, tirando o L. F. Vieira, não deve haver mais nenhum lampião sócio do Sporting. Na minha bancada, onde só há sportinguistas, aplaudiu-se o Moutinho e a Taça.

Por fim, o melhor da festa, que foi mesmo isso: a festa. O estádio estava cheio, embora os números oficiais apontassem para pouco mais de 25000 pessoas, o que revela que algo vai mal no sistema de contagem de acessos. Esse número representaria meia casa, e até onde o meu olhar alcançava, na bancada B, não havia mais do que meia dúzia de lugares livres. O pessoal da Trofa compareceu em grande número: tirando as óbvias excepções morconas e lampiãs, além de Leixões, Setúbal e Guimarães, não me lembro de ver tanta gente acompanhar uma equipa adversária a Alvalade. Havia muitos, quer na zona atribuída aos apoiantes adversários, que enchiam por completo, quer espalhados pelo resto do estádio. E, como sempre em Alvalade, sem conflitos nem problemas. Aqui é tudo gente boa, tirando um ou outro energúmeno - acontece nas melhores famílias.

quarta-feira, agosto 20, 2008

Queiroz II

«Selecção não é casa nem espectáculo com lugares marcados». A Frase é de Carlos Queiroz, e marca a primeira grande diferença em relação à era Scolari. A segunda grande diferença vem na enumeração dos critérios que presidem a uma convocatória: «Mérito, atitude, forma, qualidade técnica e potencial».

domingo, agosto 17, 2008

O primeiro

Ora assobiem lá agora

[publicado em simultâneo no Facciosos]

Ora assobiem lá agora, deve estar a pensar o Djaló, vaiado e assobiado várias vezes na época passada por alguns cripto-lampiões em Alvalade. O miúdo vai fazendo o que sempre fez bem: jogar e marcar. Do jogo só pude ver a primeira parte, e a espaços, pois estava num jantar (não, eu não passo a vida em jantares). Do pouco que vi pareceu-me ter sido um óptimo jogo, a defesa do Porto lá foi evitando o inevitável, e quando falhava lá estava o Xistra a dar uma ajudinha (literalmente), a aliviar um cruzamento para fora da área morcona. Rezam as crónicas que o Sporting mereceu a vitória, o que não impediu o Jesualdo de, em mais uma demonstração do seu já proverbial mau perder, falar em "felicidade" do adversário que lhe ganhou 4 dos últimos 5 jogos oficiais, os três últimos pelo mesmo resultado, os dois últimos sem discussão. Será que o facto de o Porto nos últimos 5 jogos só ter conseguido marcar 1 golo ao Sporting, no célebre livre directo na área, é só falta de sorte?

Não é importante a Super Taça, é um troféu menor, mas é sempre moralizante vencê-la diante de um rival, sobretudo tendo esse rival a categoria do Porto, dominador indiscutível do futebol português nas últimas 3 décadas. Pede-se agora que, ao contrário do que aconteceu na época passada, não se desperdice esta oportunidade para lançar a equipa numa boa campanha nacional e europeia. Seja como for, um troféu oficial já cá canta. O 4º em 2 anos, o que, não sendo perfeito, sempre é melhor do que outros que tanto gostam de se pôr em bicos de pés, mas que em mesmo período não têm nem 1 para amostra.

sexta-feira, agosto 15, 2008

Queiroz II

A convocatória para a seleçcão da FPF, a primeira da era de Queiroz II, retoma a tradição de se convocarem apenas os jogadores em forma (o Nuno Lampião é a excepção que confirma a regra). Como se previa, foram deixados de fora os jogadores incapacitados para a prática futebolística de forma temporária ou permanente, e pela primeira vez em muitos anos apenas foram convocados os jogadores de facto em forma e com provas dadas. Com a tal excepção. Ao contrário dos tempos da Senhora do Caravaggio, parece que finalmente os critérios futebolísticos voltaram a ser determinantes.

quarta-feira, agosto 13, 2008

Ai filho!


Se o António Oliveira vir isto dá-lhe uma sulipanta! Por mim fico satisfeito de ver que não estou assim tão sozinho no mundo do futebol, no que a mariquices diz respeito.

domingo, agosto 10, 2008

Cherchez l'arbitre!

[publicado em simultâneo no Facciosos]

Já aqui disse que não gosto de jogos de preparação, ou, como eufemisticamente se ouve mais, de pré-época. Apesar disso ontem fui a Alvalade ver o Sporting. Porque estou com fome de bola, porque o jogo estava incluído na Gamebox, e sobretudo para aplaudir freneticamente o Moutinho e cuspir olhos furiosos sobre os lampiões infiltrados que se atrevessem a assobiá-lo.

Este terceiro objectivo saiu-me, felizmente, defraudado. Primeiro porque, num esquecimento cheio de intenção, a constituição das equipas não foi fornecida. E não foi por problemas técnicos, de certeza: o speaker de serviço agora até regouga o tempo de compensação. Fez-me lembrar o já distante ano de 2003, quando o assobiadíssimo e lençobrancado Fernando Santos levou a que o nome do treinador deixasse de ser referido no final da constituição das equipas. O facto de se lhe ter seguido o Peseiro, mal amado entre os adeptos ainda antes do primeiro jogo, ajudou a que a curiosa omissão se mantivesse mesmo durante o consulado do popularíssimo Paulo Bento. Esperemos que com isto não se inaugure nova tradição em Alvalade. É que enquanto não se arranjar maneira de expulsar os lampiões infiltrados, haverá sempre assobios à equipa (!) e aos seus jogadores (!). Não tive, felizmente, até ao fim do jogo oportunidade para escarrar olhos indignados aos assobiadores, porque estes eram raros, e distantes do lugar onde me achava. De resto, e como estou mesmo na central, num lugar de sócios, é natural que o nível seja outro, e que não haja lampiões - tirando o Vieira do benfica não conheço mais nenhum lampião que seja sócio do Sporting. De vez em quando lá se ouvia um lampião assobio, mas foi coisa rara.

A oportunidade de ouro foi a grande penalidade. Numa atitude corajosa e arriscada, tendo em conta o passado recente da equipa, foi o Moutinho o designado para marcá-la. E aqui tiro o meu chapéu a quem tomou a decisão. É que, como diria o Mr. de La Palisse ou o Jesualdo, só havia duas hipóteses: ou o Moutinho falhava e era despedido com uma monumental vaia por parte dos lampiões, ficando os sportinguistas a sério na contingência de ter de aplaudir um falhanço para contrariar os adversários, ou concretizava, e os lampiões ficavam sem pretexto para assobios. Marcou, apesar de alguns assobios do sector lampião, nos momentos que antecederam a marcaqção, prontamente abafados pelos aplausos dos sportinguistas presentes. Aliás se dúvidas houvesse sobre a filiação clubística dos assobiadores, ontem ficaram bem evidentes: se ainda posso conceder (mas não compreender) que, num delírio inexplicável, um adepto de um clube decente assobie um seu jogador, acho que ultrapassa todos os limites do entendimento humano assobiar um jogador da própria equipa quando este se prepara para marcar uma grande penalidade. Ergo, ficou ontem provado que os assobiadores de Alvalade são cripto-lampiões.

Quanto a mim aplaudi freneticamente o rapaz, antes, durante e depois da marcação da grande penalidade, e só não o aplaudi de pé quando saiu porque gosto de manter alguma compostura, e não incomodar quem está atrás e quer ver o jogo.

Em relação ao jogo propriamente dito, um bocejo longo, longo de quase 2 horas, contando com o intervalo. Foi pena não ter levado um livro para me entreter. Isto até entrar o Postiga, claro, a partir daí o jogo ganhou novos motivos de interesse. Gostei de um alívio que fez na área adversária a um remate de um sportinguista que não consegui perceber quem era, mostrou ter categoria para central. Gostei também da classe demonstrada quando tropeçou em si mesmo e rebolou no relvado. É preciso ter nível para cair daquela maneira e levantar-se logo a seguir com aquele ar de no pasa nada.

Para a semana começa o futebol a sério.

P.S.: enquanto conduzia em direcção à praia, a meio da manhã, ia ouvindo na Antena 1 o desfiar diário dos fracassos dos atletas portugueses nos Jogos Olímpicos. Quando chegou à Telma Monteiro percebi que de facto ela já está completamente integrada e ambientada no clube que a recebeu quando já estava devidamente formada e credenciada: pôs as culpas da sua eliminação no árbitro.

segunda-feira, agosto 04, 2008

Vão lá assobiar para vossa casa e deixem o estádio para os sportinguistas a sério!

[publicado originalmente no Facciosos]

Não estive ontem em Alvalade, pois calhou-me estar no Porto para o casamento de um grande e querido amigo. Li e ouvi, no entanto, que o João Moutinho foi assobiado. Não estou em condições físicas nem intelectuais para grandes efusões retóricas, poupo-vos a isso. Queria apesar disso deixar aqui os meus 5 tostões sobre o assunto.

Não se bate na mãe. É feio. Muito feio. Nem para fundar um reino. Nunca. Nem quando nos remói o juízo ruminando olhaquestàfrios cansados ou a resmungar andazacomertãomales em aflições fora de tempo. Não. Nem quando nos bate à porta de casa às 8 da manhã a desfiar erasòparassabersetinhaschegadobens quando nos deitámos meia hora antes depois de uma noite daquelas que não se podem contar às mães. Nunca. Nem quando nos lança olhos de mater dolorosa e de palmas voltadas ao céu nos implora lhe demos um neto nem que seja recorrendo a barriga de aluguer. Não. Nem quando nos ensina os sobrinhos a gritar vivòbenficas ainda antes de atingirem a idade da razão (et pour cause). Nem assim. Não. Nunca. Não se bate na mãe.

Por isso não consigo entender, por mais que retorça as meninges, o que leva alguém a assobiar, apupar, vaiar, ofender a sua equipa. Por isso não consigo compreender o que leva alguém a assobiar, apupar, vaiar, ofender os jogadores da sua equipa, mesmo sendo eles incapacitados para a prática desportiva. A mim nunca ninguém me ouviu assobiar, apupar, vaiar ou ofender em Alvalade o Purovic, o Silva, o Alessandro, o Deivide, o Hugo, o Bueno, o Luís Filipe e outros do mesmo jaez. No máximo ter-me-ão ouvido uns foda-se ou uns estegajo rosnados entre dentes e acompanhados de cerrar de punhos e olhos postos na cobertura do estádio - não no céu, porque eu não acredito em deuses, nem celestes nem ctónicos.

Esta fraqueza inofensiva permite-me, pois, ter alguma tolerância para com quem se levanta e urra impropérios quando o Purovic tropeça em si mesmo e rebola na relva, ou quando o Silva, na área adversária, aliviava bolas lançadas pelo ataque do Sporting, ou quando o Hugo fazia assistências para avançados adversários ou concretizava belos auto-golos. Eu nem assim consigo ir além do supra dito foda-se silencioso.

Porque não adianta. Porque nunca vi ninguém melhorar o seu desempenho depois de lhe ofenderem a mãe ou lhe diminuirem a virilidade ou lhe difamarem a orientação sexual. E sobretudo porque nunca vi uma equipa melhorar o seu desempenho depois de vaiada por uma assobiadela dos seus próprios adeptos. Ainda que a minha formação na área da psicologia seja rudimentar, uma das coisas básicas que aprendi foi que usar reforço negativo para melhorar o desempenho, seja em que área for, é assim um bocadinho como tentar matar a sede com cubos de sal. A mim parece-me óbvio, claro como a água, mas como achava os seminários de Psicologia Educacional uma xaropada das antigas, admito que tenha adormecido em momentos importantes, e que o meu raciocínio esteja inquinado por isso.

Admito, todavia, ainda que não o faça, que se assobiem jogadores adversários, com a intenção de os enervar. O que nos leva a outra questão - se alguns adeptos assobiam com a mesma veemência adversários e atletas do seu clube, das duas uma: ou querem enervar ambos, e portanto não se percebe porque raio assobiam os "seus" jogadores, ou querem incentivar ambos, num retorcidíssimo exercícios psicológico, e então fico sem saber o que os leva a assobiarem o adversário. A não ser que pretendam com o mesmo assobio incentivar o seu atleta e enervar o adversário, o que é assim como se eu tomasse veneno dos ratos para curar a tosse ao mesmo tempo que o espalhava para matar os ditos. Enfim. Admito que sou um pouco limitado de raciocínio, e que me escapam estas subtilezas.

Admito e aplaudo, porém, que se assobiem jogadores adversários que tenham passado pelo Sporting e que tenham de alguma forma ofendido o clube por actos ou palavras. Não é comum em Alvalade, que, pelo contrário, tem por hábito aplaudir jogadores adversários que tenham passado por Alvalade, mesmo jogadores pouco relevantes. Quem vai a Alvalade sabe que é normal antigos jogadores do Sporting serem aplaudidos, às vezes com entusiasmo, quando são substituídos ou quando entram. Só quem não percebe o que é fair-play pode estranhar. Assobiados e vaiados assim de repente só me lembro do Simão "Devo tudo ao meu Sporting" e do Quaresma.

Assobiar e apupar jogadores que sairam do clube *e* cuspiram no prato onde comeram, cujo exemplo mais acabado é o do Simão, não me parece mal.

Assobiar e apupar jogadores que sairam do clube porque lhes ofereceram melhores condições noutro lado mas que continuam a respeitar o antigo clube - seja ele qual for - parecer-me-ia inqualificável, se não fosse pueril, estúpido e digno de um troglodita. Assobiar e apupar jogadores que não sairam do clube, que não ofenderam em nada o clube, que se dedicaram sempre de corpo e alma ao clube, que se tornaram símbolos do clube - apenas porque disseram que pretendiam sair, presumivelmente para melhorar a situação financeira e profissional, a mim parece-me, bom, não sei, é difícil encontrar palavras. Pueril não chega. Estúpido é pouco. Troglodita é eufemístico. Inqualificável talvez seja a melhor palavra.

O João Moutinho fez bem em vir para os "média" (*) dizer que queria sair? Não. Prejudicou-se a si mesmo, fragilizando quer a sua imagem, quer a sua posição no balenário e na equipa, quer a sua posição negocial. Fez bem em dizê-lo na véspera de um jogo? Não. Pode ter desestabilizado o balneário (que ainda assim chegou para arrumar tranquilamente o adversário megalo-milionário). Deve sair de um clube que joga para o título e vai na terceira presença consecutiva fase de grupos da Liga dos Campeões, em favor de um clube pouco relevante da liga inglesa? Não, mas é problema dele, além de uma inacreditável burrice estratégica.

Mas, e citando de cor um artigo d'A Bola que folheei enquanto arrotava a regalada morcela de arroz (**) do baptizado dos meus sobrinhos (***), que tão grandes amargos de boca me vai trazer quando vir a balança a vergar mais do que deve para o lado direito, eu pergunto: o rapaz em algum momento disse que não gostava de estar no Sporting? Disse em algum momento que não se ia dedicar como sempre se dedicou, caso, como tudo indica, não se fosse embora? Demonstrou, em algum momento, falta de respeito pelo clube ou pelos seus adeptos (e não, dizer que quer sair não é falta de respeito, se do outro lado lhe oferecem melhores condições)?

Não, não, e não. Nunca disse que não gostava de estar no Sporting. Nunca disse que caso ficasse não se ia dedicar como sempre. Nunca, em momento algum, faltou ao respeito ao clube ou aos adeptos. Disse apenas que, por motivos pessoais que entretanto se tornaram públicos e que, frisou, nada tinham que ver com o clube, precisava de sair. E estes mesmos adeptos que receberam de vendidos braços abertos o Jardel depois de este ter desrespeitado de todas as formas possíveis o clube agora assobiam e apupam um miúdo que, recordemos, não só nunca desrespeitou o clube, como o tem honrado e servido com uma dedicação e profissionalismo raros de achar no futebol actual, a ponto de ser respeitado e elogiado até pelos tradicionais rivais do Sporting. Apesar disso, assobiaram-no e apuparam-no, como assobiaram e apuparam (com justiça) em outras ocasiões o Simão.

Dir-me-ão que a reacção dos adeptos - adeptos? Não, adeptos não assobiam os seus melhores jogadores - dir-me-ão que a reacção de alguns dos presentes ontem em Alvalade se deveu precisamente ao sentimento de desilusão perante a surpreendente intenção revelada pelo Moutinho. Ora bolas, então agora apupa-se, assobia-se e ofende-se quem, sem nos ofender nem desrespeitar, nos desilude de alguma forma? Imagine-se que, depois de verificar a excelência latina do nosso amigo aquilino desde as primeiras aulas, eu tinha reagido da mesma forma que estes senhores ao saber que o meu dilecto aluno era lampião. Tolerar-se-ia que eu tivesse saltado de trás da secretária e tivesse começado a assobiar e a urrar bu bu bu? Que de cada vez que o nosso Aquila entrasse na sala eu lhe lançasse os papéis e os livros à cabeça? Berrava e urrava e grunhia sempre que ele abrisse a boca? Que faria eu então se fosse como esses senhores e se ele me tivesse vindo dizer que o meu horário não lhe dava jeito e que por motivos pessoais tinha de ir latinar para outra freguesia? Esfregava-lhe o apagador na cara?

Não, dirão, seria louco se o fizesse. Mas foi precisamente isso que aqueles senhores fizeram. Acharam feio que o rapaz , sem em momento nenhum ter faltado ao respeito ao clube ou aos adeptos, tivesse dito que precisava de sair? Admitamos que sim. E o que eles fizeram, foi bonito? Não menos do que se eu tivesse assobiado, berrado, urrado e grunhido se o meu caríssimo Aquila tivesse vindo ter comigo no fim de uma aula e me tivesse dito que ia mudar de turma por motivos que nada tinham que ver comigo.

E eu só posso supor uma coisa: que não eram adeptos sportinguistas. Que eram lampiões inflitrados. Porque só a adeptos adversários passaria pela cabeça assobiar, apupar e ofender um dos melhores jogadores da equipa - se não o melhor - apenas porque o rapaz disse, sem ofender nem enxovalhar nem faltar ao respeito a nada nem a ninguém, que, por motivos pessoais alheios ao Sporting, tinha de sair do clube e melhor assim a sua situação profissional.

É que bater na mãe é feio. Sempre. Mesmo quando nos desilude ou aborrece. E ao nosso clube e aos seus jogadores, quando o honram e respeitam, devemos respeito e honra. Não como devemos à nossa mãe, mas como devemos a tudo o que amamos. E aqueles senhores claramente não amam o Sporting.

Vou dormir que o meu mal é sono.


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(*) É latim, não é inglês, deve-se pronunciar com "é".
(**) Alusão inevitável à boa comida.
(***) Sim, casamento ontem no Porto e baptizado hoje, aqui na moirama.

segunda-feira, julho 28, 2008

Primeiro


benfica 0 - 2 Sporting

Não gosto de jogos de pré-época. São geralmente mal jogados, aborrecidos, com os jogadores medianos a darem o litro para convencerem o treinador e os consagrados a recuperar das férias chutando bolas pachorrentas, indiferentes ao jogo, sabendo que o lugar está garantido. Há excepções, como em tudo, mas a regra é a do aborrecimento. Por isso raramente vejo jogos de pré-época em anos de Mundial ou Europeu - nos outros anos o desespero depois de um mês sem bola é tal que até futebol feminino marchava, se desse na TV, o que, graças aos deuses de quem me lê, não acontece.

Abri ontem uma excepção para ver curtos nacos do Celtic e do Sporting. Estando em casa de amigos, no meio de uma festa onde imperavam os eslavos com a sua característica euforia bem disposta, conseguindo nesse campo superar as espanholas, e esmagando os sorumbáticos e minoritários portugueses, lá ia conseguindo espreitar de vez em quando o Celtic, pois havia dois morcões na festa (um português e um ucraniano), e mais vezes o Sporting, apoiado nos meus propósitos por um bielorrusso e um marroquino, leões convictos. Não gostei do que vi de um lado e do outro, salvando-se porém, em ambos os casos, o resultado. Mas gostei muito da comida.

Hoje, embora o trabalho me berrasse com esbracejos desesperados, decidi ver o Sporting no torneio Guadiana. Sem grande atenção, com um olho pequenino na TV e um enorme no computador, onde aborrecidos gatafunhos seiscentistas, exumados das gavetas muito públicas do Arquivo Secreto Vaticano e papalmente pagos a peso de ouro, me iam enchendo o estômago de artigos e decisões e papas e bispos e epístolas e o raio que os partisse a todos deus-nossenhor-me-perdoe-que-sou-ateu. Gostei moderadamente. Assim como gostei dos cogumelos russos de ontem, afogados num molho estranho. Duas colheradas. Assim-assim. Bonzinho. Ma non troppo, pardon my italian. Mas nada comparado ao belíssimo polvo galego feito por uma galega a sério.

Gostei de ver o Sporting a controlar calmamente o jogo, a marcar dois golos. Gostei de ver que o Djaló continua a calar os assobiadores. Gostei de ver o Rochemback, aumenta-me sempre a auto-estima ver um tipo mais gordo que eu a jogar ao mais alto nível. Gostei de ver a coerência da equipa do Sporting, decorrente da continuidade dos jogadores titulares da época passada, apenas com 2 reforços no 11 inicial, em contraste com a tradicional manta de retalhos benfiquista no início de cada época, reflectindo políticas directivas e desportivas que vão em sentidos opostos, e cujos reflexos se têm feito sentir nas pçosições relativas dos dois clubes nos últimos anos. Gostei de ver que o Carlos Martins mantém no Benfica o nível que tinha no Sporting em 98% dos jogos. Gostei de ver que o Moutinho não jogou, confirmando-se que o Paulo Bento tem mão, ainda que às vezes a tenha em demasia. Gostei do resultado.

Não gostei dos anormais que armaram desacatos antes e durante o jogo, e é com tristeza que verifico que muitos sportinguistas se portaram como benfiquistas (por este andar qualquer dia armam confusão entre eles mesmos). Não gostei do Postiga, que nos minutinhos que esteve em campo só mostrou aquela coisa a que os romanos chamavam "merda" (dito assim, em latim, soa mais suave, não vos parece?). Não gostei do Bynia, que claramente devia estar a jogar na equipa de râguebi ou então a praticar luta livre, e é só uma questão de tempo até magoar de forma muito séria um jogador adversário - por enquanto só vai magoando a sensibilidade dos espectadores mais suceptíveis. Andei à procura do palhacito do Aimar (é assim que lhe chamam, não é, "el payasito"?), mas não o encontrei, por isso não posso dizer se gostei ou não - e estava com muita expectativa, dado o festival épico-patético que foi a sua contratação.

O Sporting conquistou o torneio, o que não quer dizer nada, não significa nada, e nem sequer é moralizante, dado o nível dos adversários. Serviu para descontrair enquanto se esperam os jogos a sério. Agora com licença que tenho de ver se no meio do latim não andei a cuspir impropérios futebolísticos, o que desagradaria bastante ao meu orientador, que até é portista.

domingo, julho 20, 2008

"Sempre defendi, pessoalmente, que o Benfica não deveria ir à Liga dos Campeões" . 3

ou
A raposa e as uvas

A notícia já tem uns dias, mas o trabalho tem sido tanto e a diponibilidade tão pouca que só agora arranjo um bocadinho para vir para aqui derramar fel. Diz o presidente dos lampiões que, apesar dos recursos para a UEFA, nunca quis ir à eliminatória da Liga dos Campeões no lugar dos morcões. Fica-se, portanto, sem saber o que levou então a direcção dos lampiões a fazer a tristíssima figura (mais uma) do recurso à UEFA sobre a participação dos morcões na Liga dos Campeões. Se era só para chatear e dizer no fim "agora não queremos nós", está tudo dito quanto à maturidade e visão dos dirigentes, se dúvidas ainda houvesse. Se era não, então a frase do Luís Filipe Lampião só pode ter uma leitura: tal como a raposa da fábula, vem agora dizer que as uvas estão verdes, depois de desesperada e ridiculamente ter tentado obter precisamente o que agora diz que nunca quis (*). Há ainda uma terceira hipótese, a de que realmente o homem não queria, e que o recurso foi apresentado à revelia. Nesse caso fica a questão: quem manda no benfica?

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(*) Para os menos cultos que não entenderam a alusão literária, quer dizer que só depois de ver que não conseguia o que desesperadamente tentara é que veio dizer que afinal não queria.

"Sempre defendi, pessoalmente, que o Benfica não deveria ir à Liga dos Campeões" . 2

Sempre defendi, pessoalmente, que o Benfica não deveria ir à Liga dos Campeões
Luís Filipe Vieira

De uma coisa não se pode acusar o homem: de incompetência. A sua gestão, de facto, tem primado pela ideia de evitar a todo o custo que os lampiões vão à Liga dos Campeões.

"Sempre defendi, pessoalmente, que o Benfica não deveria ir à Liga dos Campeões" . 1

sexta-feira, julho 11, 2008

sexta-feira, julho 04, 2008

Nacionalismos

A notícia já não é nova, mas recordê-mo-la: a UEFA, através do seu comité técnico, colocou Pepe e Bosingwa na equipa ideal do Euro'08. Portanto, dois jogadores nacionalizados, um brasileiro, o outro congolês.

A questão das nacionalizações (eufemisticamente designadas "naturalizações") tem sido levantada por diversas entidades, e o samba que soou este Verão na Áustria e na Suíça em nada ajudou a sanar as divergências. Quanto a mim, vacinado há muito contra a praga do nacionalismo e indiferente ao patrioteirismo futeboleiro, confesso que não me aquece nem me arrefece. Para mim patriotismo é pagar os impostos a tempo e horas, não alinhar em esquemas "sem factura é mais barato", escrever sem erros, não deitar lixo no chão, cumprir o código da estrada, e outras coisas importantes. Pôr arremedos de bandeiras made (badly) in China à janela e apoiar um grupo de marmanjos só "porque sim" não está na minha lista de comportamentos patrióticos. De resto, eu sou como o Guardiola, que dizia "la meva selecció és el Barça" (pardon my catalan). A minha é o Sporting.

Sou, portanto, indiferente a patrioteirismos futeboleiros. Por mim ponham lá as bandeirinhas à janela à vontade. Eu se pusesse era a do Sporting. Mas não ponho. Já não sou indiferente, porém, a alguma dualidade de critérios que se tem verificado na generalidade da opinião pública portuguesa, quando se trata de admitir ou não admitir jogadores nacionalizados nas diversas selecções portuguesas. Para não ir muito mais longe, até porque hoje exagerei um pouco no ginásio, recordo a histeria à volta da selecção de râguebi, porque houve uns rapazes com excesso de peso que choraram a cantar o hino nacional. Alcandorados todos a heróis nacionais - todos, incluindo os argentinos nacionalizados e mais uns rapazes de nomes impronunciáveis, de sonoridade eslava, que por lá andavam entre os "lobos" (quando eu pensava que eram só as selecções africanas que tinham alcunhas...). Não sei se choraram a cantar o hino, mas o povão não se chateou nada, e ala que se faz tarde, são todos uns patriotas de primeira água.

É que para o português comum parece que a coisa funciona mais ou menos assim: se forem brasileiros nacionalizados, cai o Carmo e a Trindade (ou o que resta de 1755), e é a honra da nação que sai ultrajada. Se forem argentinos (os tais do râguebi), congoloses, nigerianos, eslavos, então não se passa nada, está tudo bem. Para não nos dispersarmos pelas diferentes selecções, onde abundam, perante a indiferença geral (e ainda bem), os nacionalizados dos 4 cantos do mundo, concentremo-nos na selecção de futebol. Foi generalizada a indignação, sobretudo de benfiquistas, por causa da nacionalização e convocatória do Deco. Mas não ouvi um único queixume a propósito do Makukula, congolês de Kinshasa. Sim, esse mesmo que não há muitos anos afirmou publicamente que recusava representar a selecção portuguesa, pois queria a congolesa (para a qual de resto não chegou a ser convocado). Esse mesmo que veio depois fazer um tremendo teatro, quando convocado pelo sr. Scolari, chorando lágrimas de crocodilo, alegando que a convocatória era um sonho. Um sonho? O sonho dele era que o pessoal tivesse memória curta. Mas eu não tenho. Infelizmente parece que, sobretudo para os lados do CC Colombo, a memória é coisa que vai falhando com cada vez maior frequência.

Para quê trazer o Makukula à colação, e não outros ilustres nacionalizados não brasileiros, como o Bonsingwa, o Nani ou o Nélson (o lampião), só para referir alguns já dos tempos do sr. Scolari? Porque uma das alegações contra as convocatórias dos nacionalizados brasileiros é a de que alegadamente só se tornaram portugueses por interesse, para lançarem as suas carreiras, e porque no Brasil não tinham hipóteses. Além de ser muito complicado provar tais alegações, e de eu ter seriíssimas dúvidas sobre se o Deco ou o Pepe se sentem menos portugueses do que eu (menos é complicado, de facto), pode-se sempre contra-argumentar com este caso Makukula, exemplo provado e acabado de alguém que só integra a selecção portuguesa, depois de a ter previamente recusado, após ver que não se safava na do Congo. Mas parece que com ele está tudo bem. Não é brasileiro, não há problema.

Além disso, também podemos perguntar-nos quantos jogadores estão ou estiveram na selecção com intenções puramente patriotas. O Figo, que recusou integrar a selecção quando estava na crista da onda em Madrid, alegando que tinha de dar prioridade ao clube que lhe pagava (ao menos foi sincero), e que, quando foi para o banco do Bernabéu e percebeu que tinha de mudar de ares depressa, veio fazer olhinhos aos srs. Scolari e Madail, e, dando o dito por não dito, ainda fez mais meia dúzia de jogos? Isto já sem falar das recorrentes discussões sobre prémios de jogo, dignas de selecções do 3º mundo, e de casos como o lamentável "Saltillo", em que um grupo de patriotas ameaçou fazer greve durante o Mundial'86, e acabou mesmo por se recusar a jogar a quase totalidade da qualificação para o Euro'88, para gáudio das restantes selecções do grupo, que defrontaram um grupo de 2ªs e 3ªs escolhas, que em circunstâncias normais não seriam convocados nem pelo sr. Scolari. É este o amor à camisola que dizem que só os de sangue puro lusitano (seja lá o que isso for) podem sentir? Eu por mim não tenho a mais pequena sombra de dúvida: o Pepe e o Bosingwa são muito mais portugueses do que eu. O Deco não sei nem me interessa, o Makukula já se viu que é de quem o convocar.

Podia ainda tentar contrariar alguns argumentos mais divertidos, como o de que "não deve haver jogadores com sotaque", mas basta ouvir o português sofrido do Bosingwa ou o impenetrável açoriano do Pauleta para o argumento cair por terra sem ser preciso grandes abanões.

Portanto, e como praticamente ninguém se indignou com a chamada dos nacionalizados Bosingwa e Makukula (e ainda bem), resta-me concluir que de facto o que há é má vontade contra os brasileiros. Que o assumam, portanto, e não se escondam atrás do argumento do nacionalismo ou patriotismo.

Repito: nacionalismos a mim não me convencem, e a História tem mostrado, desde que foram inventados algures no século XIX (*), que daí, como de Espanha, nem bom vento nem bom casamento. Além disso, se o propósito é representar a nação (qual?), então não faz muito mais sentido que se represente o país tal como ele é, de facto, uma mistura de portugueses, brasileiros, africanos, eslavos, asiáticos? Isto dando de barato que uma selecção de futebol representa um país, o que me parece redutor e lamentável.

Diz que é para comentar a não inclusão do Ronaldo na equipa ideal do Euro'08? Então mas a ideia não é precisamente pôr lá os jogadores que mais se destacaram? Então o que é que o Ronaldo ia lá fazer? Mostrar os seus horrendos peitorais hipertrofiados?



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(*) Antes disso valiam sobretudo as fidelidades a uma casa real, não a um país. Isso explica, por exemplo, que a nobreza portuguesa tenha ficado praticamente toda do lado de Filipe IV, em 1640, quando, aproveitando-se da revolta da Catalunha e da Guerra dos 30 Anos, a coroa portuguesa foi restaurada, na cabeça de D. João IV (Filipe IV, na perspectiva de perder a Catalunha ou Portugal, preferiu garantir a Catalunha, e só anos depois, quando o exército português já tinha tido tempo de se reorganizar, decidiu vir aqui para estes lados, ainda fragilizado da Guerra dos 30 anos, e depois de esmagada a revolta catalã). Ou que na célebre batalha de Aljubarrota houvesse quase tantos portugueses do lado castelhano como do anglo-português, e que parte muito significativa da nobreza portuguesa tenha ficado, de novo, do lado castelhano. Mas isso são contas de outro rosário. Aqui é mais bola.

[publicado originalmente no Facciosos]

O cão que mordeu o homem

Dizer que houve desacatos numa assembleia geral do benfica é um pouco como dizer que um cão mordeu um homem. É que em Londres há nevoeiro. Em Paris a Torre Eiffel. Em Sevilha as festas da Semana Santa. Nas assembleias gerais do Benfica há desacatos. Nihil noui sub sole.

sábado, junho 21, 2008

Escolhidos a dedo

Eu bem tento portar-me como um homenzinho, até consegui aguentar-me sem grandes mariquices desde que abri o blogue, mas esta selecção da Holanda parece ter sido feita a dedo. Este Heitinga, por exemplo, devia ser obrigado a jogar de burca. Como é que alguém se pode concentrar no jogo com este rapaz em campo?

O mito, ou a passagem de Scolari pela FPF



(...) Não tenho muito jeito para dizer bem, é a dizer mal que me vou safando, vergastando com técnicas retóricas aprendidas ora obrigado e com grande maçada em seminários obrigatórios, ora voluntariamente e com prazer, lendo Cícero e Platão e outros (fica sempre bem uma tirada pedante a abrir). Ora eu não sei se o sr. Scolari e/ou os seus satélites bigodudos tiveram formação na área, mas de uma coisa estou certo: conseguiram criar um mito que será difícil destruir, e que minará o trabalho de qualquer seleccionador que lhe vier a suceder - o mito de que há um futebol português antes de Scolari e um futebol português depois de Scolari. E isto, dizia, minará o trabalho de qualquer seleccionador que lhe vier a suceder. Independentemente da nacionalidade - e isso da nacionalidade para mim tem tanto valor como o futebol (?) do Purovic.

Não sei de onde terá partido, mas há uma tremenda máquina de propaganda, possivelmente até expontânea, à volta do trabalho do sr. Scolari na selecção portuguesa. Centra-se em 5 falácias, a saber:
  1. Scolari levou a selecção até onde ela nunca tinha chegado;
  2. Scolari uniu os portugueses em torno da selecção;
  3. Antes de Scolari andávamos sempre de calculadora na mão e raramente chegávamos a fases finais;
  4. Scolari acabou com os grupinhos e as influências externas na selecção;
  5. Antes de Scolari jogava-se bem, nunca se ganhou nada.

A primeira falácia é a única que tem alguma (pouca) base. É certo que levou a selecção a uma final, coisa que nunca tinha acontecido. No entanto, isso só seria extraordinário se por um lado nunca se tivesse estado sequer perto disso, ou, por outro lado, se nos abstraíssemos do contexto em que tal ocorreu. Qualquer pessoa minimamente atenta à evolução do futebol português percebe que chegar a uma final era uma questão de tempo. O bom trabalho desenvolvido a partir dos anos 80 é a razão principal, se não única, dos sucessos futebolísticos dos anos 90 e desta primeira década do século XXI. Para quem tem memória curta, eu relembro o Euro'96, onde a selecção, então (des)treinada pelo Oliveirinha, encantou a Europa, venceu o seu grupo, e só foi travada nos qurtos (tal como agora) pelo famoso chapéu do Poborsky, que haveria de jogar a final, depois de eliminar a futura campeã mundial França, e perdê-la só no prolongamento. Houve o parênteses do Mundial'98, qualificação perdida em circunstâncias inglórias. Mas seria a última a ser perdida. Em 2000 a selecção voltou a encantar a Europa, despachando na frase de grupos a Inglaterra (que já é freguesa desde 1966, última vez que nos ganhou oficialmente), a Roménia, que era então uma das mais fortes selecções da Europa e que até tinha ficado à nossa frente na qualificação, e a Alemanha, campeã em título, e que foi despachada por 3-0 pelos suplentes portugueses. Primeiro lugar no grupo, tal como em 1996, 2004 e 2008, com a diferença de ter sido no grupo mais forte de sempre, e com 3 vitórias em 3 jogos. Para abreviar razões, todos nos lembramos da eliminação já nos últimos minutos do prolongamento da meia-final, perante a campeã mundial em título, e que se sagraria dias depois campeã europeia. Depois veio a vergonha do Mundial'02, o tal que correu mal para todas as selecções europeias menos a alemã, e que teve como 3º a Turquia e 4º a Coreia. Apesar disso, a fase de qualificação foi excelente, num grupo em que estava a Holanda (outro freguês habitual).

Chegou então o consulado do sr. Scolari, que arrastou a selecção durante 2 anos de vergonha em vergonha, com derrotas sucessivas, algumas copiosas, caindo aos trambolhões no ranking da FIFA. Por várias vezes a demissão esteve no horizonte. As convocatórias desses tempos entraram no anedotário desportivo nacional. Casmurro, foi preciso perder o jogo de abertura perante uma Grécia deprimente para mudar tudo, e deitar fora (demasiado tarde) 2 anos de trabalho. Arrastou-se penosamente até aos quartos, que era o mínimo que se pedia com um grupo daqueles (a primeira vez em que Portugal não tinha a campeã em título), sofrendo até aos últimos segundos do último jogo. A jogar em casa e num grupo com a Grécia e aquela Rússia, convenhamos que é obra. A eliminação da Inglaterra, com a ajuda preciosa do árbitro, foi dramática, conseguida nos penáltis. Veio a Holanda, selecção que nunca se deu bem com o nosso futebol, e por fim a final com a inacreditável Grécia, que tinha passado aos quartos miraculosamente e com uma única vitória. Há quem justifique o injustificável dizendo que a Grécia eliminou os checos e os franceses. É certo. Com uma vaca leiteira daquelas gordas e afanadas. Mas é certo. Os franceses, numa crise indisfarçável que já vinha desde o Mundial'02 e só ficou disfarçada por uma boa ponta final no Mundial'06, foram apanhados de surpresa, e terão sido vítimas da sua sobranceria. Subestimaram uma selecção sem história no futebol internacional, e que tinha passado por milagre ortodoxo depois de ganhar a Portugal, empatar com a Espanha e perder com a Rússia. Os checos viram a forma como os franceses foram eliminados, mas pareceram não ter aprendido a lição. Finalmente, a final. O sr. Scolari, ao contrário dos checos e dos franceses, não podia ser apanhado de surpresa. Já conhecia os gregos. Já tinha jogado contra eles duas vezes, tendo empatado uma e perdido outra, semanas antes, sempre em casa. Mas quê, isso de aprender e mudar é para os outros. Cometeu a proeza - e eu não lhe retiro esse mérito, o seu a seu dono - de ter perdido uma final em casa, perante um ambiente extraordinário, diante de um grupo de bons rapazes que nunca tinham feito nada de jeito antes nem voltaram a fazer depois, e que tinham chegado à final assim como que aos trambolhões. É obra. Pior que isto só o Peseiro a perder a UEFA em casa. Mas esse ao menos tinha uma equipa a sério como adversária.

Depois veio a qualificação para o Mundial'06, e cenas inacreditáveis, como o empate contra o Lichtenstein ("é normal", disse ele depois do jogo). Qualificação mais ou menos tranquila, no grupo mais fácil de que há memória, onde só a tímida Eslováquia ainda apresentava algum risco. No entanto, não fez melhor do que o inenarrável Oliveirinha, na qualificação pra '02, num grupo que tinha a Holanda. Conseguiu até fazer pior em termos de golos marcados e sofridos. Apesar de ter o Lichtenstein no grupo. O Mundial'06 não correu mal, é verdade. Chegar às meias foi muito bom, é certo. Nem tudo foi mau, com o sr. Scolari. Mas descontextualizar isso da evolução do futebol português desde os anos 80 é chegueira ou desonestidade intelectual. Apesar de tudo, há algumas interrogações que volto a fazer: com um grupo daqueles (Angola, Irão, México), não era a obrigação mínima passar aos quartos? Perante o último assomo de uma França decadente, e depois de eliminar os fregueses habituais, não seria de pedir um pouco mais? Talvez as coisas tivessem corrido de forma diferente se não tivessem ficado em casa jogadores como o Quaresma, e não tivessem sido convocados os amigos do costume, alguns deles a recuperar de lesões, outros que não jogavam há meses, outros até sem clube na altura da convocatória. Mas tiro-lhe o chapéu. Fez um Mundial'06 bom.

Por fim, a sofrida qualificação para o Euro'08, num grupo que, sem ser ridiculamente fácil (como o do Mundial'06), era acessível. Apesar de tudo, não conseguiu melhor do que um 2º lugar garantido já na ponta final. Quanto à fase final, não vou falar, porque por circunstâncias diversas só consegui ver (e mal) o jogo contra a Turquia. Haverá quem comente muito melhor do que eu.


A segunda falácia diz que o sr. Scolari uniu os portugueses em torno da selecção. Francamente eu não sabia que tinham alguma vez deixado de estar. O que ele de facto conseguiu, a meias com o Marcelo, foi pôr os portugueses a pendurarem bandeiras made in China nas janelas e nos carros. Muito graças ao facto de ter jogado o Euro'04 em casa, com os óbvios efeitos que a proximidade física traz. Conseguiu, porém, uma proeza a que poucos têm dado o devido valor: mostrar que os portugueses nem os seus símbolos nacionais conhecem convenientemente, como se viu pela incrível quantidade de bandeiras de pernas para o ar que se viam. Mas convenhamos, pôr bandeiras à janela não revela união nem, muito menos, patriotismo. Quando muito revela mau gosto.


A terceira falácia diz que se deixou de andar de calculadora na mão, e que dantes raramente se chegava a fases finais. Falso. Andou toda a gente de calculadora numa mão e o coração na outra, em 2004, até ao último segundo do último jogo da fase de grupos. A coisa só se resolveu já nos últimos jogos, nas qualificações de 2006 e 2008, em grupos facílimos. Raramente chegávamos às fases finais? Falso. Desde que o trabalho ao nível da formação começou a dar frutos, com a chegada da "geração de ouro" à selecção principal, no início dos anos 90, só se falhou uma fase final, a do Mundial'98. De resto, estivemos em todas: Euro'96, Euro'00, Mundial'02, Euro'04, Mundial'06, Euro'08. Só os dois últimos se conseguiram graças a ele - ou apesar dele. E tirando o Mundial'02, em todos se fez boa figura, em particular no Euro'00, sem dúvida a melhor prestação portuguesa de sempre em grandes provas, aliando um excelente futebol com resultados, e frente a selecções de primeiríssima linha (com a excepção da Turquia, outro freguês usual).

A quarta falácia alega que o sr. Scolari acabou com os grupinhos e as influências. Tendo em conta que as convocatórias dele raramente constituiram surpresa, uma vez que basicamente convocava sempre os mesmos, independentemente do momento de forma, que deixava de convocar outros por razões extra-futebolísticas, que assumia o seu grupinho intocável, parece-me que só com grande sentido de humor se pode afirmar que ele acabou com os grupinhos. Sim, acabou com os grupinhos que havia antes. Mas criou outros, os dele, à pala dos quais jogadores que em outras circunstâncias nunca seriam convocados tinham livre-trânsito em todas as convocatórias. Não é que isso seja sempre negativo. Quem anda de dieta, como eu, e viu o Miguel rebolar os pneus e os refegos pescoçais no jogo contra a Suíça, fica sempre consolado - afinal é possível ter-se uns quilos a mais e continuar a jogar numa selecção nacional. Também não deixa de ser um excelente momento de humor, vindo de um seleccionador que em tempos se manifestou tão preocupado com o rabo dos seus jogadores, ameaçando não convocar os que o tivessem demasiado grande. Qual seria a bitola? Maior que o do Miguel já não dava?

A quinta falácia, finalmente, reza que antes do sr. Scolari nunca se ganhou nada, apesar de se jogar bem. Bom, e com ele, ganhou-se alguma coisa?


(...) Queria acabar a dizer bem, mas é difícil, não é coisa que me esteja no sangue. Ontem ainda pensei em ver o jogo. Mas para isso teria de faltar à minha aula de Árabe, que começava antes e acabava durante. Se fosse um jogo importante do Sporting, mandava logo o Árabe às malvas. Mas entre os muitos encantos da língua dos desertos das arábias e o naufrágio previsível de uma selecção à deriva em que o patrão já está com a a cabeça noutro lado e os jogadores parecem mais preocupados com futuros contratos do que com o momento presente, não tive dúvidas na escolha, الحمد لله , que é como quem diz, em língua cristã, Deo gratias.

Texto publicado, com pequenas alterações, no FACCIOSOS

Viyana Kuşatması

Confesso: ainda que tenha jogadores feios que nem uma noite de trovões (os close-up durante o hino, no jogo contra Portugal, eram dignos de um filme do Carpenter), a Turquia é a minha selecção preferida neste Europeu, por mais que me esforce a torcer pelos holandeses, selecção de colheita muito superior. Por isso vibrei com a épica reviravolta no jogo contra os checos, enquanto a selecção portuguesa enfardava uns deprimentes 0-2 da inofensiva Suíça. E por isso me entusiasmei com a vitória de ontem frente aos croatas. Embora não me pareça que venhamos a ter grandes surpresas, pois duvido que consigam fazer a gracinha a alemães ou a holandeses ou a italianos ou a espanhóis, este Europeu já valeu a pena para o Fatih e sus muchachos. E se chegarem a Viena, como vociferava na TV um adepto eufórico após o jogo com os checos, até pode ser que a História sofra uma daquelas ironias tão divertidas com que por vezes nos presenteia, e 500 anos depois os turcos consigam levar a bom termo a investida. Eu cá ficaria muito contente.

Imagem: gravura otomana contemporânea do Cerco de Viena.

quinta-feira, junho 19, 2008

Dualidades

Muita gente se indignou com o facto de ter sido escolhido um árbitro austríaco para o Portugal x Suíça, argumentando por um lado que o árbitro seria parte interessada devido às hipóteses (fraquíssimas) de a Áustria se qualificar e ser adversária de Portugal; por outro com o facto de ser de um dos países organizadores, e de assim ser tentado a fazer um favorzinho ao outro organizador, a Suíça. Isto num jogo que não decidia nada, e em que na verdade não aconteceu nada que condicionasse o próximo jogo português.

Não vejo, no entanto, ninguém indignar-se por o Alemanha x Áustria, esse sim um jogo que decidia tudo e de onde quase de certeza sairia o adversário de Portugal nos quartos (as hipóteses da Polónia, no outro jogo, eram meramente académicas), ter tido como quarto árbitro um português - portanto, alguém com interesse muito claro e evidente no resultado final e em eventuais consequências disciplinares. Alguém que até achou por bem mandar expulsar, muito convenientemente, os treinadores de ambas as selecções (das duas, sim, não fosse o diabo tecê-las), sabendo que assim Portugal defrontaria uma selecção com treinador na bancada.

terça-feira, junho 17, 2008

İkinci Viyana Kuşatması

[Józef Brandt - A batalha de Viena]

Na sequência da sensacional vitória turca sobre os checos, o jogo que mais me alegrou neste europeu, um adepto turco eufórico gritava "agora vamos até Viena". Não deixaria de ser uma divertida ironia da História.

quinta-feira, junho 12, 2008

Adeus ó vai-te embora



Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, junho 09, 2008

Portugal es Moutinho


«A sus 21 años, Moutinho es el 10 del Sporting, el club al que le llevaron desde el Algarve su madre, jugadora de baloncesto y su padre, ex futbolista de las categorías inferiores del Benfica. No hay ningún club en Portugal que cuide mejor a la cantera que el Sporting, y aunque sólo se le reconoce su capacidad para fabricar extremos (Ronaldo, Figo, Quaresma, Simão), también genera medios como Moutinho.»


Mais aqui.


segunda-feira, junho 02, 2008

Não se admite

Se há coisa que detesto é quando, após uma derrota do Sporting, há um daqueles lampiões chatos (redundância, eu sei) ou algum morcão que me liga a regougar ironias e arremedos de provocação. Por isso ontem caiu-me muito mal, mas mesmo muito mal, o jantar que me estava a saber tão bem, quando recebi o telefonema do meu morcão de estimação a comunicar, com indisfarçável gáudio, a contratação do Postiga pelo Sporting.

quinta-feira, maio 22, 2008

Até morrer

A festa da Taça

Fotos-0078

Ainda que não disfarce uma época que chegou a ser deprimente, a conquista da Taça de Portugal não deixa de ser um momento importante e um dos momentos mais marcantes, pela positiva, da época. Ganhá-la numa final ao FC Porto, que de facto pertence a outra galáxia, depois de ter esmagado o benfica na meia-final com uma goleada histórica é um feito notável. Mais ainda porque a vitória, mau grado as choraminguices de mau perdedor de uma parte significativa da tripeiragem, foi clara, inequívoca, justa e previsível desde os primeiros minutos do jogo, quando logo se viu que o Sporting era a melhor equipa em campo. De resto, o Rui Patrício teve de se mexer durante o jogo menos vezes do que eu, que, à força de muito chá, tive de me levantar meia dúzia de vezes para ir vazar o depósito.

O Olegário fez uma arbitragem ao seu nível: mazinha. Os morcões queixam-se de uma falta de Polga que precede o primeiro golo do Sporting, afirmando que isto condicionou o resultado. Nisto se pode ver como a memória é selectiva: convenientemente esquecem o golo limpinho anulado ao Sporting logo na primeira parte, por um fora de jogo que só existiu na imaginação do fiscal de linha. Não deixa, no entanto, de ser extremamente ingrato para um homem que tantas coisas deu ao FCP (lembram-se, por exemplo, do golo que o Petit marcou, que o Baía tirou de bem dentro da baliza, mas que não foi?) ser vilipendiado desta maneira. Cospem no prato onde comeram. Ou melhor, mordem a mão de quem os alimenta. O mau perder morcão, que já é uma instituição do futebol português, ficou aliás bem patente na atitude de jogadores e técnicos, no final do jogo. Não sabem ganhar, não sabem perder. É muito triste, e nisto também se vê a cultura de uma "naçom".

Mas voltando ao que interessa. A festa foi boa e linda. Alvalade em ebulição, à espera dos jogadores. Pena alguns energúmenos terem querido estragar a festa, lançando fumos e agredindo seguranças. Parecia que estávamos no Galinheiro ou no Morcão, uma vergonha. E não terá sido por acaso que as claques foram mais assobiadas do que aplaudidas, quando o locutor de serviço lhes agradeceu o apoio (?).

Agora segue-se este longo deserto sem futebol nacional. Para o ano há mais.

P.S.: fico à espera, sentado, para ver quais as consequências disciplinares para o Morcão João Paulo e a tentativa de agressão ao árbitro, depois de expulso pelo homicídio na forma tentada a um jogador do Sporting.

É dos nossos!

quarta-feira, maio 21, 2008

Wonder boy


Eu torço sempre pelos nossos quando se trata de jogos entre equipas estrangeiras. Por isso, na final da Liga dos Campeões (que alguns, provincianamente, insistem em designar pelo nome inglês) desta noite a escolha era óbvia e não admitia hesitações: torci freneticamente pelo Manchester United, a única equipa em campo que tinha dos nossos.




segunda-feira, maio 19, 2008

BiTaça!

terça-feira, maio 13, 2008

Balancé 1 - os resultados desportivos

Afinal não foi assim tão mau. Quer dizer. Foi mau. Mas para quem viu a coisa tão mal parada a meio da Liga, a ponto de até o acesso à UEFA ter estado ameaçado, para quem viu a equipa a arrastar-se humilhada por esses estádios do país, acabar em 2º lugar sabe que nem ginjas - das de Óbidos, daquelas a nadar em licor.

De facto se me dissessem a meio da liga que íamos acabar em 2º eu dizia que não admitia que gozassem com os pobres. A verdade é que se o 2º lugar não pode satisfazer ninguém, é preciso ainda assim relativizar as coisas. E a verdade é que:
  • o SCP acaba pelo 3º ano seguido em 2º lugar, o que não sendo bom é tudo menos mau;
  • o SCP chega à final da Taça da Liga, embora a perca perante uma equipa de 2ª linha;
  • o SCP chega à final da Taça de Portugal;
  • o SCP chega aos 1/4 da Taça UEFA, sendo a equipa portuguesa que foi mais longe esta época;
  • o SCP consegue fazer uma época melhor do que a do SLB, embora o SCP tenha um orçamento que é muito, mas mesmo muito inferior.

segunda-feira, maio 12, 2008

Até morrer

sexta-feira, maio 09, 2008

Murem peperit mons

Já diziam os antigos, a montanha pariu um rato. Provada a corrupção desportiva, o FCP foi punido com menos 6 pontos, que não lhe fazem falta nenhuma. Portanto, é uma não punição. É brincar com o pessoal. É um caso de "o crime compensou" para ficar registado nos manuais. O Grande Corruptor fica com 2 anos de suspensão, coisa pouca, e que não o afastará de facto dos centros de decisão.

Já os elos mais fracos da corrente, os árbitros corrompidos, levam com castigos pesados, pesadíssimos, quando comparados com os corruptores.

Eu cá por mim acho que a Comissão Disciplinar da Liga devia meter a decisão pelo respectivo acima. Sem lubrificante.

segunda-feira, maio 05, 2008

domingo, maio 04, 2008

Assobiem lá agora

O nosso (*) Djaló marcou o 7º golo nos últimos 9 jogos, e há por aí muita gente que cada vez assobia com mais força para o ar. E o 2º lugar final está ali mesmo mesmo ao alcance.


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(*) Dos verdadeiros sportinguistas, dos que não assobiam nem insultam nem apupam os seus jogadores.

domingo, abril 20, 2008

Homo neanderthalensis


É mesmo uma gentinha sem nível nem civilidade... Quanto ao jogo de Quarta, prometo que o virei comentar em breve.

quinta-feira, abril 17, 2008

Ai Deus e u é?


Eu continuo à procura dos que crucificaram, vaiaram, assobiaram e apuparam em Alvalade este rapaz. Andam todos muito calados. Estranhamente calados. E espero que assim continuem. Quase estragaram esta pequena pérola da Academia.

terça-feira, abril 08, 2008

"O João... Pode vir o João"

O Vieira (não o padre, atenção) diz que está à vontade porque não recebe árbitros em casa. É verdade. Ele não precisa de os receber em casa, escolhe-os pelo telefone. Além disso diz que se apoia em factos quando denuncia resultados viciados. Não seria de esperar outra coisa, ele já era presidente do benfica na época 2004/2005.

Diz ainda a capa d'A Bola que o presidente do Boavista suspeitou do Lampião Jorge Ribeiro, o rapaz que nasceu para o futebol no benfica, que jogou no benfica e que se diz que vai voltar ao benfica, e que falhou o penálti contra o benfica no último jogo. Hmm... Suspeitou porquê?

Continuando o périplo pelos jornais desportivos, o Record apressa-se a desmentir que o Lampião Rui Costa tenha tentado entrar na cabine dos árbitros, depois do jogo com o Boavista. Baseia-se, nesse desmentido, em "fontes próximas do jogador". Muito bem. Não era, de facto, possível encontrar fontes mais fidedignas.

segunda-feira, abril 07, 2008

«É nítido que existe viciação de resultados»

Ai Deus e u é?

Tendo em conta os últimos jogos (mas não só), gostava de saber onde andam os falsos sportinguistas que o assobiaram e apuparam durante tanto tempo, em Alvalade.

terça-feira, março 11, 2008

Prognósticos antes do fim do jogo

Esta é, para o Sporting, uma época perdida. Não me lembro de um campeonato tão vergonhoso - e os jornais desportivos fazem hoje questão de recordar que está a ser o 2º pior de sempre. Não sei se a culpa é do Paulo Bento. Aliás, a questão terá de ser outra: que parcela de culpa tem ele. Apesar de opções inexplicáveis, como insistir durante muito tempo na nulidade Purovic, quando toda a gente já tinha percebido que o rapaz nem nos distritais, parece-me que o Paulo Bento ainda é dos menos culpados. Não me parece verosímil que tenha desaprendido, depois de duas épocas bastante positivas. A verdade é que o planeamento da época foi desastroso. Como já tantas vezes disse e escrevi, e infelizmente se veio a confirmar, uma equipa que no banco tem purovices, farnerudes e celsinhos, não pode aspirar a mais do que lutar pelo acesso à UEFA. Com sorte.

Ao Sporting resta agora tentar eliminar a lampionagem e ir à final da Taça, e rezar para que o outro finalista seja o Porto. Nesse caso o acesso à UEFA estaria garantido em qualquer circunstância, e poder-se-ia deixar de pensar no perdidíssimo campeonato, para se concentrar apenas na UEFA e na preparação da nova época, eventualmente com experiências ao nível do plantel e da táctica. É que perder por 1 é igual a perder por 10. Tendo a UEFA garantida, acabar em 5º ou em 6º ou em 7º é igual - o 2º e 3º só por milagre, neste momento, e o 4º começa a ser difícil.

Seria/será uma vergonha acabar abaixo do 3º, é verdade. Mas que raio, há por aí equipas que se gabam de ter uma história (já só lhes resta isso) recheada de glórias, e ainda há pouco tempo acabaram campeonatos em 6º e em 4º, e não foi por isso que lhes cairam os parentes na lama - já tinham caído há muito, e de lá não se levantaram.

segunda-feira, março 10, 2008

Não há meio de isto acabar?

Não há meio de esta liga acabar? Não há anti-depressivo, não há psicoterapia que resista. Pelo andar da carruagem vamos ter de torcer para eliminar o aviário da Taça, torcer para que os morcões eliminem o Setúbal, e por esta via garantir o acesso à UEFA.

sábado, março 08, 2008

I'm a lumberjack and I'm OK


Aviso já: não gosto de generalizações nem de definições estereotipadas. No entanto, enquanto ontem, no ginásio, assistia ao início de um jogo de futebol, não pude deixar de as formular, ainda que apenas mentalmente. Isto depois de alguns segundos, pois no início pensei que fosse algum jogo de futebol masculino para aí de sub-20. Rapazitos engraçados, alguns mesmo bonitinhos. Mas depois reparei melhor, e havia alguns "rapazinhos" um pouco efeminados nas feições. Afinal, para meu horror, não eram homens: eram mulherio! Com mais testosterona do que eu, é certo, algumas com mais barba. Isto as polacas. As portuguesas (?) fariam corar de vergonha os camionistas TIR que às vezes param aqui ao pé de casa a tomar uma bjeca no café cá de baixo.

domingo, março 02, 2008

Why do I care?

Não percebo porquê tanta coisa com os penaltis roubados ao Sporting: mesmo que o árbitro os assinalasse, seriam certamente falhados.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Tradições

Diz a tradição que nos jogos entre Sporting e lampiões ganha quem está em pior momento. O problema é que neste caso é difícil perceber quem está em pior momento.

domingo, fevereiro 24, 2008

Bem podes piscar à vontade

Diz que o camafeu do Carlos Martins anda a piscar o olho ao senhor Scolari. Em vão. O sr. Scolari já assumiu que não é pelos seus lindos olhos que selecciona jogadores. Segundo o próprio, o que lhe interessa são as dimensões do rabo deles.


sábado, fevereiro 23, 2008

Hein?

Os jornalistas desportivos adoram fazer jogos de palavras, geralmente forçados, previsíveis e sem graça. Hoje o Record faz crípticas alusões a uns pássaros com nomes improváveis, relacionando-os com o Liedson e com o Tiuí. É verdade, eu confesso que não perco muito tempo com jornais desportivos. Dou-lhes uma vista de olhos enquanto bebo um chazinho no café, abro-os no Firefox para ver se há alguma notícia divertida, e pouco mais. Não, eu adoro futebol. Por isso mesmo leio poucos jornais desportivos. Sempre achei que as melhores notícias de futebol se encontram nos jornais generalistas, como o Público. Além do mais, quando a opção é ler um jornal a sério, tipo Público ou Diário de Notícias, ou um pasquim desportivo, não hesito. Já para não dizer que aqueles minutos que dedicaria à leitura de um jornal desportivo são muito mais bem aplicados em outras coisas, como Tchékhov, Lobo Antunes, Joyce, Dostoiévski, Kafka ou Tolstói (*).

Mas vem tudo isto a propósito, então, da chalaça do Record, que compara o Tiuí a um "tuiuiú ou jaburu" (seja lá o que isso for), e o Liedson a um "quero-quero". Se no primeiro caso ainda há uma vaga semelhança fonética entre o nome do pássaro e o do jogador, no segundo a graçola passou-me completamente ao lado. Eu li e reli e tornei a reler o artigo, mas nada. Nem uma pista, nem uma luzinha que seja. Se alguém tiver a bondade de me explicar como se eu fosse muito mas mesmo muito burro...

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(*) Fica sempre bem uma tirada cultural a atirar para o pedante arrogante, e eu desde pequenino sempre quis ser um pedante arrogante.
Cardozo e Binya desentendem-se na peladinha

A razão do desentendimento entre os dois lampiões foi uma entrada violenta. Não, não foi do Lampião Binya sobre o Lampião Cardozo.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Pereirinha

As ocasiões para o Sporting dar alegrias este ano têm sido tão poucas que é forçoso vir aqui registar a satisfação pela excelente vitória de hoje na Suíça, e a consequente passagem à próxima eliminatória da Taça UEFA. Gostei da atitude, com muita garra e vontade. O Pereirinha vai-se revelando um grande jogador, e eu desminto categoricamente quem quer diga que eu alguma vez disse mal dele. Mas a equia toda esteve muito bem. Pena não se ver isto nos jogos para a liga.

Foi uma noite que parecia perfeita, e tinha tudo para ser perfeita. Não fosse os lampiões terem ido buscar a vaca leiteira do costume e passado a eliminatória contra um dos últimos do campeonato alemão.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

A Floresta


Não, não me enganei no blogue. É mesmo a propósito do jogo de ontem com o Estrela. Estive lá, como sempre, e não assobiei, como é mais do que óbvio - afinal sou adepto, não me passa pela cabeça assobiar os atletas do meu clube, sobretudo quando ainda nem sequer tocaram na bola. Mas lamentei e lamento ter estado lá. Estava um frio impossível, molhei-me para chegar ao estádio, e o jogo foi uma vergonha. Ainda por cima, vim directamente de "A Floresta", pela Cornucópia. É assim como beber um bom "vintage" e a seguir ferir os lábios numa qualquer zurrapa mais própria dos bifes do que do copo. É mau. É horrível. Eu devia ter previsto. Depois da divertida floresta do Ostróvski, a deprimente floresta do Paulo Bento (que tem todo o meu apoio, não me interpretem mal).

Ainda por cima não é a primeira vez que me acontece este ano. Não é a primeira vez que, depois de uma tarde de êxtase na Cornucópia a ver Ibsen, Tchékhov ou, como ontem, Ostróvski, saio de lá directamente para Alvalade, e sou presenteado com um espectáculo deprimente e depressivo. Aliás, o meu psicólogo já me proibiu de ir a mais jogos em Alvalade este ano, pois considera contraproducente no tratamento da minha depressão crónica.

Mas como canis timidus uehementius latrat quam mordet (*), lá estarei para ver os lampiões. Pessimista, porque o Sporting este ano já mostrou que só joga alguma coisa contra equipas grandes. E como o Porto e o Belenenses já jogaram em Alvalade...


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(*) Tradução, pelamordedeus, há alguém neste mundo que não saiba latim?! Se há, não merecia estar a ler isto, é uma afronta!