domingo, agosto 24, 2008

Começou

[publicado em simultâneo no Facciosos]

Foi jeitoso. O resultado foi animador, a exibição da primeira parte bastante razoável. Parece-me que não houve nenhum jogo na época passada em que o Sporting tivesse feito uns 30 minutos tão agradáveis e, a espaços, entusiasmantes. Não tenho muitas esperanças quanto ao título, até porque o Sporting parte, como nos últimos anos, na terceira posição da grelha de partida, distanciado em termos de orçamento, número de associados e apoios dos dois rivais. Ainda que, como se tem visto, os maiores orçamentos nem sempre correspondam a melhores classificações, a verdade é que é sempre uma condicionante de relevo. Não tenho muitas esperanças, dizia, mas eu nestas coisas sou muito parvalhão e ingénuo, e nem me importo de ficar em 2º ou 3º, desde que veja bom futebol. E este ano parece-me que vou vê-lo, "in xa' Allah".

Confesso que ainda pensei, quando aos 28 ou 29 minutos berrei golo pela 3ª vez, que íamos ter goleada das antigas. Martelei mesmo um sms desse teor a um amigo, que obviamente era extemporâneo. O sms, não o amigo. Acho. Seja como for, a verdade é que a partir daí o jogo se foi enroscando num tédio amolengado, assim ao ritmo dos cabelos compridos da brasileira à minha frente, que os esfregava (sem querer, quero crer) ritmadamente nos meus joelhos estivalmente desnudos. (Dois advérbios em mente numa mesma oração, francamente, é deprimente, mas que se lixe). Depois veio o intervalo, e o lamentável espectáculo das "cheerleaders" em coreografias escanzeladas, perante a consternação generalizada dos poucos que ficaram nas bancadas para aturarem aqueles implantes saltitões enxertados nos estádios portugueses com a mesma naturalidade com que se enxertaria uma macieira numa palmeira. Pisguei-me assim que pude.

A coisa só animou quando, já na segunda parte, o árbitro assinalou aquele penálti espantoso que mais ninguém no estádio viu, aparentemente nem o fiscal de linha. De resto a noite de hoje pode vir a fazer história na jurisprudência desportiva, se tal coisa existir: passa a haver um precedente para a marcação de penálti em faltas a uns bons dois metros da área. Confesso que ainda me passou pela cabeça rapada de fresco (e talvez pour cause) que como o rapaz da Trofa tinha aterrada na área, talvez ainda se admitisse aquela coisa de a falta poder ser começada fora, mas acabar lá dentro. Só que imediatamente me lembrei de que isso só se aplica se o jogador começar a ser agarrado fora, e continuar a ser agarrado dentro, o que, claramente, não foi o caso. O que me faz confusão é que se até para um aspirante amaricado a latinista e a arabista isto é claro como a água, lá em cima na bancada B, como é que pode ter passado em claro a um rapazola de nome evangélico que até fez um daqueles cursos de árbitros? Mais valia se calhar ter andado a fuçar no latim e no grego, fazia melhor figura. Até lhe posso desculpar o penálti perdoado aos tipos da Trofa, que passou despercebido a quase toda a gente no estádio, mas aquele penálti "a meio campo", enfim, não sei, faltam-me os adjectivos e os advérbios em mente.

Não vou, no entanto, embarcar no discurso paranóico-conspirativo - e a tentação era grande, pois ele só se enganou para um lado. O que ficou evidente na noite de hoje, em termos de arbitragem, foi que aquele cavalheiro de apito na boca, é, à semelhança da generalidade dos árbitros portugueses, incapaz e incompetente. Completamente. E isto foi só o começo. Infelizmente.

Para continuar a remoer os aspectos negativos, não gostei de verificar que ainda há alguns cripto-lampiões que assobiaram o Moutinho. Ou então estavam a assobiar a Taça que ele exibia. Nem uma coisa nem outra é de sportinguista a sério. Aliás, não sei qual será pior. Não tive oportunidade de ladrar a quem o fazia, porque o meu lugar é numa zona de sócios, e, tirando o L. F. Vieira, não deve haver mais nenhum lampião sócio do Sporting. Na minha bancada, onde só há sportinguistas, aplaudiu-se o Moutinho e a Taça.

Por fim, o melhor da festa, que foi mesmo isso: a festa. O estádio estava cheio, embora os números oficiais apontassem para pouco mais de 25000 pessoas, o que revela que algo vai mal no sistema de contagem de acessos. Esse número representaria meia casa, e até onde o meu olhar alcançava, na bancada B, não havia mais do que meia dúzia de lugares livres. O pessoal da Trofa compareceu em grande número: tirando as óbvias excepções morconas e lampiãs, além de Leixões, Setúbal e Guimarães, não me lembro de ver tanta gente acompanhar uma equipa adversária a Alvalade. Havia muitos, quer na zona atribuída aos apoiantes adversários, que enchiam por completo, quer espalhados pelo resto do estádio. E, como sempre em Alvalade, sem conflitos nem problemas. Aqui é tudo gente boa, tirando um ou outro energúmeno - acontece nas melhores famílias.

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