domingo, agosto 10, 2008

Cherchez l'arbitre!

[publicado em simultâneo no Facciosos]

Já aqui disse que não gosto de jogos de preparação, ou, como eufemisticamente se ouve mais, de pré-época. Apesar disso ontem fui a Alvalade ver o Sporting. Porque estou com fome de bola, porque o jogo estava incluído na Gamebox, e sobretudo para aplaudir freneticamente o Moutinho e cuspir olhos furiosos sobre os lampiões infiltrados que se atrevessem a assobiá-lo.

Este terceiro objectivo saiu-me, felizmente, defraudado. Primeiro porque, num esquecimento cheio de intenção, a constituição das equipas não foi fornecida. E não foi por problemas técnicos, de certeza: o speaker de serviço agora até regouga o tempo de compensação. Fez-me lembrar o já distante ano de 2003, quando o assobiadíssimo e lençobrancado Fernando Santos levou a que o nome do treinador deixasse de ser referido no final da constituição das equipas. O facto de se lhe ter seguido o Peseiro, mal amado entre os adeptos ainda antes do primeiro jogo, ajudou a que a curiosa omissão se mantivesse mesmo durante o consulado do popularíssimo Paulo Bento. Esperemos que com isto não se inaugure nova tradição em Alvalade. É que enquanto não se arranjar maneira de expulsar os lampiões infiltrados, haverá sempre assobios à equipa (!) e aos seus jogadores (!). Não tive, felizmente, até ao fim do jogo oportunidade para escarrar olhos indignados aos assobiadores, porque estes eram raros, e distantes do lugar onde me achava. De resto, e como estou mesmo na central, num lugar de sócios, é natural que o nível seja outro, e que não haja lampiões - tirando o Vieira do benfica não conheço mais nenhum lampião que seja sócio do Sporting. De vez em quando lá se ouvia um lampião assobio, mas foi coisa rara.

A oportunidade de ouro foi a grande penalidade. Numa atitude corajosa e arriscada, tendo em conta o passado recente da equipa, foi o Moutinho o designado para marcá-la. E aqui tiro o meu chapéu a quem tomou a decisão. É que, como diria o Mr. de La Palisse ou o Jesualdo, só havia duas hipóteses: ou o Moutinho falhava e era despedido com uma monumental vaia por parte dos lampiões, ficando os sportinguistas a sério na contingência de ter de aplaudir um falhanço para contrariar os adversários, ou concretizava, e os lampiões ficavam sem pretexto para assobios. Marcou, apesar de alguns assobios do sector lampião, nos momentos que antecederam a marcaqção, prontamente abafados pelos aplausos dos sportinguistas presentes. Aliás se dúvidas houvesse sobre a filiação clubística dos assobiadores, ontem ficaram bem evidentes: se ainda posso conceder (mas não compreender) que, num delírio inexplicável, um adepto de um clube decente assobie um seu jogador, acho que ultrapassa todos os limites do entendimento humano assobiar um jogador da própria equipa quando este se prepara para marcar uma grande penalidade. Ergo, ficou ontem provado que os assobiadores de Alvalade são cripto-lampiões.

Quanto a mim aplaudi freneticamente o rapaz, antes, durante e depois da marcação da grande penalidade, e só não o aplaudi de pé quando saiu porque gosto de manter alguma compostura, e não incomodar quem está atrás e quer ver o jogo.

Em relação ao jogo propriamente dito, um bocejo longo, longo de quase 2 horas, contando com o intervalo. Foi pena não ter levado um livro para me entreter. Isto até entrar o Postiga, claro, a partir daí o jogo ganhou novos motivos de interesse. Gostei de um alívio que fez na área adversária a um remate de um sportinguista que não consegui perceber quem era, mostrou ter categoria para central. Gostei também da classe demonstrada quando tropeçou em si mesmo e rebolou no relvado. É preciso ter nível para cair daquela maneira e levantar-se logo a seguir com aquele ar de no pasa nada.

Para a semana começa o futebol a sério.

P.S.: enquanto conduzia em direcção à praia, a meio da manhã, ia ouvindo na Antena 1 o desfiar diário dos fracassos dos atletas portugueses nos Jogos Olímpicos. Quando chegou à Telma Monteiro percebi que de facto ela já está completamente integrada e ambientada no clube que a recebeu quando já estava devidamente formada e credenciada: pôs as culpas da sua eliminação no árbitro.

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