Diz o roto ao nu

Não tenciono ler o livro da Carolina Salgado. Nunca me cativou a literatura de fofoca. Há, no entanto, que reconhecer a coragem da senhora, que põe a nu e confirma uma série de situações relativas ao Pinto da Costa que já eram do conhecimento público. Não sabemos se foi mesmo ela quem escreveu, mas sabemos que quem o fez soube chegar aos pontos mais vulneráveis do Morcão. Não, não me refiro ao fedor das suas flatulências, que obrigaram a pobre Carolina a ter de acender cigarros para disfarçar o cheiro. Refiro-me a três pontos frágeis e susceptíveis de, não sendo desmentidas, o fazer cair definitivamente em desgraça na opinião pública, inclusive dentro da massa adepta do FCP.

Primo, as alegadas visitas de árbitros, que parece que iam lá a casa comer bolachinhas e beber chá. Martim dos Santos parece que era visita habitual, o que é uma enorme surpresa... para quem não anda atento ao futebol nacional. Segundo a Carolininha, havia jogos combinados e gratificações monetárias e sexuais. Ora aí está uma novidade de que ninguém tinha conhecimento... Corrupção activa, portanto.

Secundo, as alegadas ordens para espancar aquele rapaz do PS de Gondomar, com requintes dignos da Camorra. "Limpar", parece que foi a expressão usado pelo Pinto da Costa, até agora não desmentida. Também terá recebido informações que lhe permitiram escapar à PJ, fugindo para Espanha. Fuga à justiça, crime organizado, portanto.

Tertio, parece que não só não ficou triste com a vitória da selecção grega sobre a da FPF, na final do Euro'04 (bom, eu também não), como também terá festejado, inclusive abrindo garrafas de champanhe. É a cereja no topo do bolo de acusações e insinuações. Anti-patriota, portanto, aos olhos dos patrioteiros, que constituem a esmagadora maioria da população portuguesa.

Independentemente de ser verdade ou não, não há dúvida de que a Carolina (ou quem por ela escreveu) soube onde e como atacar o antigo amante. Resta saber se é decente e moral fazê-lo desta forma. É que soa a vingançazinha sórdida. Não lhe fica bem o retrato de menina angelical enganada, ela que compactuou com as alegações de corrupção desportiva, fuga à justiça, crime organizado e anti-patrioteirismo. Talvez tivesse sido interessante revelar todas estas alegações na altura devida, em vez de alinhar nelas. Não sei, é assim uma ideia que me veio.

P.S.: não sei se triste se hilariante a cena de lampiões desdentados (redundância, eu sei) aos gritos "Carolina", liderados por aquela criatura repelente a quem chamam "Barbas", no lançamento do livro da rapariga. É o povo lampião que temos.